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Põe na Prateleira


Crédito – Foto de Matt Artz para Unsplash

Põe na prateleira

Perdi a conta das vezes em que me falaram que o futevôlei era chato de se ver pela televisão. E era mesmo. As razões alegadas eram as mais diversas. A primeira delas era a própria dinâmica que o jogo trazia no início dos anos 80. Foi o saudoso Luciano do Valle quem primeiro promoveu desafios transmitidos ao vivo pela Bandeirantes.

Leivinha (Ipanema), Ronaldinho (Leme), Marcelinho (Ipanema), Claudinho (Ipanema) dentre outros, faziam duplas com craques do futebol da época. O mesmo modelão que existe até hoje. Mas aquele futevôlei que ganhava projeção nacional, não era um conteúdo atraente e nem estava devidamente “envelopado” como produto.

Eram sets intermináveis, com a rede estendida aos incríveis 2,43m de altura, disputados com vantagem (o sistema de tie brake só foi instituído muitos anos depois) e com jogadores de futebol que mal sabiam andar na areia. Essa primeira experiência ajudou a tornar o futevôlei conhecido, mas também acabou por marcá-lo como um esporte lento para a TV.

Os anos foram passando e surgiu a primeira demanda da própria televisão. Provocado por Armando Nogueira, na época diretor de esportes da Tv Globo e seu amigo pessoal, Ayrton Brandão, um dos pioneiros e criadores do Futevôlei, promoveu algumas mudanças como a primeira baixa da rede para 2,20m e a possibilidade de devolução no primeiro toque. Até então, eram obrigatórios 2 e até 3 toques, como no Leme. Essas alterações foram adotadas no início dos anos 90 e levaram o jogo para outra dinâmica.

Verão Vivo, Copa Skol, Copa Brahma, Copa Itaú chancelavam competições e circuitos, mas o futevôlei continuava lento aos olhos das grandes emissoras. Raramente era transmitido em sua íntegra. Cobria-se nos telejornais de esporte locais e pela mídia impressa.

Em 1998, mais uma vez com Brandão, o futevôlei recebe a sua segunda chance através de nova demanda. Dessa vez era para ousar ainda mais.

A missão não era mais adaptar e sim criar um novo modelo. Com viagem marcada para trabalhar no mundo árabe, deixou o job com Flavio Maia, Cesar, comigo e com o Lula, do Leme.

Flavio e Cesar ficaram à frente do processo executivo, enquanto eu e Lula cuidávamos de pôr em prática os testes de quadra com as alterações planejadas. A Ideia era criarmos uma categoria na qual houvesse as seguintes possibilidades:

  • Inserirmos jogadores de futebol ou personalidades, sem que esses diminuíssem a dinâmica do jogo;

  • Diminuirmos ainda mais a altura da rede;

  • Que estimulasse os ataques de bicicleta (o Shark Atack ainda não havia sido criado), mais plásticos e bonitos, e que os mesmos, dado os riscos que continham, valessem mais pontos;

  • E que houvesse limite de tempo, evitando estouros na programação das emissoras.

Na verdade, a formação 4x4 é até antiga, uma vez que o futevôlei passou por esse formato de quadras no seu processo evolutivo dos anos 60 e 70, mas o limite de tempo e a rede mais baixa eram experiências ainda não testadas no futevôlei.

Quase 2 meses de testes e nasceu o Super Futevôlei, como foi chamado na época.

Legenda – Grupo de criação do Super Futevôlei (1998). De pé: Irmãos Maia, Isael, Renato, Beto, Edgar, Renato, Ayrton, Bruno e Cesar. Agachados: Luiz, Chumbinho, Juninho, Marcinho, Baleia, Leo, Germano, Luizinho e Lula.

A modalidade foi rebatizada de Futevôlei 4x4 e repaginada por Renato Adnet, o Dunga, que promoveu um Mundialito em 2013. Esse Mundialito foi considerado o maior evento de futevôlei já transmitido no Brasil e ratificou a modalidade como de grande plasticidade e dinâmica pata tv.

Pouco tempo mais tarde surgiu a maior novidade da modalidade que foi o Shark Atack. Criado pelo carioca Leo Tubarão no início dos anos 2000, o golpe atingiu o coração do jogo. A dinâmica passou a ser outra, os ralis diminuíram e o jogo ficou muito mais plástico e rápido.

De forma sintética, ao longo das décadas o futevôlei passou por diferentes predominâncias de atributos. Sempre cumulativos, ou seja, a década seguinte traz um novo atributo ou valência que são acrescidas às valências da década anterior.

  • Anos 60 – Habilidade – Formato ainda lúdico, com foco em manter a bola no alto;

  • Anos 70 – Defesa e Passe - Predomínio da habilidade com foco em não deixar a bola cair na sua própria quadra. Surge o componente competitivo;

  • Anos 80 – Condicionamento Físico - Predomínio da defesa, com o ataque surgindo como diferencial. Surgem as Trincas;

  • Anos 90 – Ataque – Surgimento de variações de ataque com fintas (rede + baixa). Retorno das competições em duplas;

  • Anos 2000 – Shark Atack – O golpe muda o jogo e há uma redução de foco sobre a defesa e habilidade. Surge a modalidade 4x4;

  • Anos 2010 – Super Ataques – Variações do Shark Atack com incremento de treinamentos específicos para bilateralidade e novo patamar de condicionamento físico. Tendência de mudança do perfil biométrico dos atletas de alto rendimento (mais altos, longilíneos e ágeis).

Morei fora por alguns anos e acabei me afastando das competições. Voltei a vê-las há pouco mais de 8 anos. Desprovido de qualquer tipo de saudosismo, fiquei chocado com o novo futevôlei que assisti depois da volta. Sem medo de errar, afirmo que as competições nacionais e internacionais, pelo menos nas suas fases finais, trazem uma dinâmica de jogo que não perde em nada para o vôlei de praia, em seu melhor nível.

São cortadas de cabeça, pingadas com finta de ombro, cabeça e peito, defesas de letra, ataques com as solas, peito e lateral dos pés, muita velocidade de deslocamento e sets de 18 pontos, em regime de tie brake. Ou seja: tudo que uma modalidade precisa para ser atraente e por consequência, para ser transmitida.

O setor áudio visual vive um momento de desafios e de transição, com novos players e formatos de transmissão, mas a chave do sucesso nesse negócio continua sendo o conteúdo. Hoje, o futevôlei de alto nível é conteúdo. Mais do que isso, bem “envelopado” e transmitido, também é produto. O caminho foi longo mas hoje o futevôlei está pronto. Põe na prateleira, que vende!

A primeira transmissão do Super Futevôlei - https://www.youtube.com/watch?v=SgEHEQa9vf4.

Transmissão do Mundialito de 2013 – https://www.youtube.com/watch?v=a-ZiixAIQ3w

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